Nesta terça-feira (2), a Tesla informou queda impressionante em suas vendas no primeiro trimestre deste ano, mostrando que perdeu o controle sobre o mercado de carros elétricos, que, basicamente, foi ela que criou, e levanta questões sobre a liderança de Elon Musk.
Os investidores da empresa não esperavam a queda, visto que rivais da montadora, como BYD, Kia e Hyundai, todas da Ásia, mostraram aumentos em suas vendas de elétricos (das três, só a BYD é 100% elétrica), o que, na visão do The New York Times, sugere que não foi só a demanda geral mais lenta por modelos EVs que explica a queda da Tesla.
Leia mais:
- 5 erros para evitar em carro com câmbio automático
- O que acontece com carro elétrico em climas extremos?
- Novo Tesla Model 3 é visto em showroom; veja fotos e vídeos
Enquanto começou a corrida pelos elétricos com seus Model 3 e Model Y, a companhia pode estar ficando para trás como uma “vovó”, já que um pessoal mais novo surgiu forte no mercado de EVs e começa a ganhar batalhas que a Tesla não está conseguindo competir direito.
Isso começa a valer pelos designs fora do padrão propostos pela equipe de Musk (é só olhar para a futurista Cybertruck) e o, muitas vezes, incômodo painel central gigante que controla tudo nos Teslas, enquanto os demais elétricos no mercado têm como característica serem minimalistas e com vários botões e interruptores, que muitos preferem.
Ainda nesta terça-feira, a revista Consumer Reports avaliou o novo Model 3, destacando que o sistema de controle interno via tela touch “torna completamente distrativo ajustar quase qualquer coisa dentro do veículo enquanto dirige na estrada”.
Apesar da crítica, a publicação considerou que os controles da nova versão do EV oferece melhor condução que o antecessor e melhorou seu manuseio.
Talvez até mesmo os nomes-padrão dos EVs de Musk (que sempre começam com “Model”) pode afastar a clientela.
Como vende seus veículos online, a Tesla não tem o hábito de possuir concessionárias, mantendo poucos showrooms. Eles costumam ser alvo de críticas, sobretudo por suposto mau atendimento.
Dessa forma, montadoras, como Ford e GM, que estão aumentando a produção de EVs, ganham fôlego, pois são tradicionais nas vendas de carros em concessionárias e possuem vastos showrooms no mundo todo.
Tudo indica que a fabricante de Elon Musk está perdida quanto tenta se recuperar nestes quesitos, pois demorou a acompanhar seu sucesso inicial com novos modelos e Musk não aprece estar muito interessado.
Ele não reagiu à divulgação dos números do primeiro trimestre nesta terça-feira (2), mostrando o que muitos investidores da Tesla e críticos apontam: ele está deixando suas outras empresas de lado e focando no X (ex-Twitter).
Números da Tesla no primeiro trimestre de 2024
- Segundo a fabricante, foram entregues 387 mil carros no mundo todo, queda de 8,5% ante o mesmo período em 2023 (423 mil);
- Essa foi a primeira vez que as vendas trimestrais da Tesla caíram anualmente desde modesto recuo no início da pandemia de Covid-19, em 2020;
- Os analistas de Wall Street esperavam modesto aumento, com os números finais divulgados ficando significativamente abaixo do esperado;
- “A Tesla não pode ficar parada”, disse Ben Rose, presidente da Battle Road Research, ao WSJ. “Os EVs chineses já estão ganhando posição na Europa, e não está claro por quanto tempo eles serão proibidos de entrar nos EUA”;
- Rose indicou ainda que carros mais acessíveis ajudariam a Tesla a atrair espectro maior de compradores.
Além dos pontos indicados acima, outras questões fora da possibilidade de controle da Tesla surgiram, como um incêndio criminoso em fábrica da empresa perto de Berlim (Alemanha).
Contudo, os investidores estão preocupados. Isso é perceptível com a queda de mais de 30% nas ações da Tesla nos três primeiros meses do ano, tudo por conta desse medo de que a empresa tenha perdido força no mercado. E a situação seguiu nesta terça-feira (2) – os papéis da companhai caíram 5% no dia.
Concorrência pesada
Por todo o lado que olha, a Tesla vê rivais bem-preparados, sejam eles mais novos no mercado de veículos, sejam eles mais “cascudos”, com história mais que centenária.
Por exemplo, na China, onde há a BYS (que, mundialmente, deixou a Tesla para trás), entre outros rivais que visam expandir-se mundialmente.
Na Europa, as tradicionais, como Volkswagen e BMW, entraram no mercado EV com modelos a bateria mais atraentes.
E nos EUA, sua casa, já tem um ano que suas vendas não têm crescido tão rápido assim, com motoristas indo para os híbridos.
Sem contar que esses rivais vêm reportando aumento após aumento nas vendas. A BYD anunciou, também nesta terça-feira (2), que vendeu cerca de 300 mil EVs, aumento de 13% ante 2023. Ela também vendeu 324 mil híbridos plug-in, alta de 15%.
Além disso, as chinesas, incluindo a BYD, introduziram vários novos modelos com rapidez e, muitas vezes, reduzindo o preço da Tesla. Elas também vêm exportando cada vez mais para Europa, Sudeste Asiático e América Latina (a BYD já tem até fábrica no Brasil e corre para começar a fabricar por aqui).
A sul-coreana Kia, também nesta terça-feira (2), informou que suas vendas de EVs nos EUA mais que dobraram neste primeiro trimestre ante um ano atrás desde que introduziu o gigante EV9.
Já a Hyundai, também da Coreia do Sul, apontou venda de dez mil elétricos nos três primeiros meses de 2024 nos EUA, representando aumento de 75%.
A Toyota, maior montadora do mundo atualmente, não tem o hábito de comercializar muitos elétricos, mas disse que suas vendas desta categoria nos EUA aumentaram 74% entre janeiro e março de 2024. Vale lembrar que o leque da empresa no setor é composto, em maioria, por híbridos, tanto da marca Toyota, como da Lexus.
Envelhecimento da frota
A Tesla também sofre com o envelhecimento de seus modelos e a falta de lançamentos mais recentes. Desde 2020, a única novidade foi a Cybertruck, que tem poucas edições para venda.
A versão mais barata da picape futurista que a montadora diz conseguir entregar em 2024 começa em cerca de US$ 80 mil (R$ 405,28 mil, em conversão direta), tornando-a inacessível a muitos clientes em potencial.
A Rivian possui uma picape que compete com a Cybertruck. É a R1, que, segundo a montadora, ao lado de outros dois modelos, impulsionaram as vendas em 70%, para 13,6 mil.
Mas a mesa pode começar a ser virada, já que a Tesla está trabalhando em EV que pode custar em torno de US$ 25 mil (126,65 mil), porém, ele não deve começar a ser vendido e produzido em larga escala até 2026, fazendo com que a empresa siga dependendo dos Models Y e 3 para segurar a maior parte de suas vendas.
Além disso, a companhia, repetidamente, reduziu os preços de seus elétricos, mas analistas dizem que a tentativa reduziu os lucros e não estimulou o bastante.
Recentemente, a Tesla mudou a estratégia e aumentou de leve os preços de alguns de seus veículos nos EUA e na China. Sem as isenções estaduais e federais dos EUA, o Model Y começa em quase US$ 45 mil (R$ 227,97 mil). O carro foi um dos que sofreu aumento no preço, de US$ 1 mil (R$ 5,06 mil).
Gary Black, sócio-gerente da empresa de investimentos Future Fund, publicou, no X, que os dados de vendas divulgados pela Tesla mostram que seus executivos “precisam de estratégia de vendas real e não podem confiar somente no corte de preços”.
Musk também não ajuda
Quem também atrapalha a Tesla a recuperar terreno… é Elon Musk. Enquanto ele não definiu diretamente como a empresa pode se reencontrar, suas declarações polêmicas e o endosso a teorias conspiratórias advindas da direita política alienaram vários clientes que se identificam com a esquerda, que, segundo dados, são mais propensos a adquirir um elétrico.
Um exemplo mostrado pelo WSJ é Raphaelle Cassens, de Los Angeles (EUA), que desistiu de ficar com o Model Y que ela alugou em 2023 para alugar um BMW i4 elétrico. Ela contou que Musk foi uma das razões que a fizeram tomar tal decisão.
Além de admitir “honestamente […] [que] não gosto dele como indivíduo”, Cassens apontou ter recebido serviço ruim da empresa “A atitude da empresa reflete, definitivamente, o proprietário”, analisou. Apesar de ser democrata registrada, a moça se declara apartidária.
Tesla tem companhia na queda de vendas de EVs
Mas engana-se que não é só a Tesla que sofre para retomar o rumo. A GM, que não tem tanta “prática” no setor elétrico, anunciou, também na terça-feira (2), que suas vendas do primeiro trimestre, nos EUA, caíram 1,5%, sobretudo porque as entregas dos modelos elétricos recuaram em cerca de 1/5, para algo em torno de 16 mil.
Isso se deveu ao fato de que houve queda acentuada nas vendas do Chevrolet Bolt, que saiu de linha no fim do ano passado. E, mesmo com o aumento na comercialização dos EVs da marca que levam em seu capô a nova tecnologia de bateria da GM, não foi o bastante para recuperar o terreno perdido com a queda nas vendas do Bolt, um dos elétricos mais acessíveis financeiramente falando nos EUA.
O post Tesla registra queda de vendas e perde controle do mercado que criou; entenda apareceu primeiro em Olhar Digital.