Um estudo, com participação de pesquisadores brasileiros, alertou para os novos desafios enfrentados pela Mata Atlântica. Se, antes, a extração de árvores, garimpo e pastagem eram as principais ameaças da vegetação, agora, loteamentos para condomínio, estradas e o aumento da caça vêm colocando o bioma em risco.
A pesquisa ainda destaca os benefícios da legislação em prol da vegetação e a regeneração de parte dela, mas que isso não é tão positivo quanto parece.
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Estudo sobre Mata Atlântica teve participação de brasileiros
O estudo foi publicado na Biological Conservation e envolveu colaboradores de Brasil, Argentina, Inglaterra, Noruega e Nova Zelândia.
Eles destacaram como mais de 70% da população brasileira vive nos limites do domínio da Mata Atlântica, bioma que se estende do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Por meio de panorama das perspectivas da vegetação ao longo do tempo (de 1986 a 2020), a pesquisa pontua como os principais desafios nos séculos passados eram a extração do pau-brasil, o garimpo de ouro e o desmatamento para monoculturas e pastagem.
Com base nisso, a Lei da Mata Atlântica, promulgada em 2006, impede o desmatamento da vegetação primária. No entanto, apesar de a legislação ter tido benefícios, o bioma enfrenta outros problemas atualmente.
Lei da Mata Atlântica teve impacto positivo
O estudo aponta que, a partir de 2005 (um ano antes da sanção da lei), houve guinada positiva na conservação e regeneração da vegetação nativa.
Segundo o ecólogo Maurício Vancine, um dos autores do estudo, a Mata Atlântica ganhou cerca de um milhão de hectares de vegetação (parte sendo de novos fragmentos de mata e outra parte de fragmentos já existentes).
Apesar de positivo, o ganho tem um desafio: a fragmentação. A pesquisa mostra que 97% dos fragmentos de mata tem área inferior a 50 hectares (para se ter uma ideia, um hectare corresponde aproximadamente ao tamanho de um campo de futebol). Ou seja, apesar de o número total ter aumentado, está espalhado no território em pequenos pedaços.
Isso tem uma desvantagem principal: as relações ecológicas nesses fragmentos podem não ser duradouras, como animais tendo dificuldades para viver por lá.
Mas uma vantagem foi observada: os trechos servem como “trampolins”, em que espécies nativas se locomovem das áreas menores para áreas maiores, onde podem viver e se reproduzir, o que aumenta a sobrevivência dos animais.
Outra observação do estudo é que, apesar do aumento da vegetação, nos 34 anos de análise da Mata Atlântica (entre 1986 e 2020) a área florestal e nativa (ocupada por floresta, mangue, restinga, savanas, campos e gramíneas) diminuiu em mais de 5%.
Desmatamento continua um problema… mas há novos desafios
Marcos Rosa, co-autor do estudo, em entrevista ao Jornal da UNESP, relatou que, apesar da regeneração da cobertura florestal, o desmatamento continuou.
Ainda, outros impactos negativos atuais colocam em risco a Mata Atlântica: os efeitos de rodovias e ferrovias (que fragmentam os trechos de mata), o aumento no número de atropelamentos, crescimento da caça, ruído e poluição, desmatamento associado às infraestruturas e loteamento de terras para condomínio.
Terra indígenas tem parte importante na preservação da Mata Atlântica
- Entre os impactos analisados pelo estudo, um ponto positivo foi o papel das terras indígenas na proteção florestal;
- Cerca de 10% da vegetação está abrigada em terras indígenas e áreas de conservação (ainda menos do que os 30% previstos como meta mundial);
- No trabalho, os pesquisadores ainda citam soluções que podem ajudar na conservação do bioma: a restauração florestal, implantação de sistemas agroflorestais mais sustentáveis, mudanças nas formas de manejo das pastagens, abandono do uso de agroquímicos em alguns casos, enriquecimento de matas com espécies e conexões entre os fragmentos.
O post Condomínios, estradas e caça: Mata Atlântica enfrenta novos riscos apareceu primeiro em Olhar Digital.